domingo, 25 de março de 2012

Carla Ubarana afirma: “era apenas uma das operadoras de um esquema liderado por outros envolvidos”

Carla Ubarana era “também um laranja” no esquema de desvios de recursos na Divisão de Precatórios no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. Essa é a conclusão a que se chega após a leitura dos manuscritos – uma espécie de “Diário da Prisão” – produzidos pela ex-chefe da Divisão de Precatórios do TJRN durante o tempo em que esteve presa. Carla afirma que era apenas uma das operadoras de um esquema liderado por outros envolvidos e, em algumas passagens do manuscrito, também detalha o funcionamento das fraudes e como os recursos eram repassados “em espécie” para os “cabeças” do esquema.
Não existem, segundo as informações levantadas pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE acerca do diário da acusada, rastros no sistema financeiro do repasse de parte do dinheiro desviado para os demais envolvidos. Operações bancárias como depósito em conta corrente, que ficariam registradas, não eram o modus operandi escolhido para a destinação final do produto do desvio. Segundo relato de Carla Ubarana, “o dinheiro era entregue em espécie”.
Carla Ubarana e George Leal estão colaborando com as investigações do Ministério Público
O diário de Carla Ubarana foi escrito durante todo o tempo em que a acusada esteve presa. Pessoas próximas e que conviveram com a acusada durante a prisão afirmam que os manuscritos permaneciam, na maior parte do tempo, com Carla e que detalhes acerca das fraudes perpetuadas dentro do Tribunal estão descritas nesses papéis. Trata-se de um caderno e também de páginas soltas.
O motivo para produzir essa espécie de “memórias do cárcere” era medo. Carla e George dizem ter recebido ameaças dentro da prisão. Por conta disso, passaram a deixar uma prova documental de seus testemunhos, no caso de sofrerem algum atentado.
Pessoas próximas à investigação consideram as ameaças como “difusas”, ou seja, ainda sem materialidade suficiente para indicar um suspeito. Contudo, o aparato de segurança colocado à disposição do casal, 24 horas, é característico de pessoas em perigo. Carla e George temem pela própria vida.
O nome de outros envolvidos e, possivelmente, a quantidade de dinheiro repassado a cada um deles ainda é algo a ser confirmado oficialmente pela ex-chefe da divisão de precatórios do TJRN. Uma das condições do termo de delação premiada de Carla Ubarana é apontar, com provas, os demais integrantes do esquema que ainda não tenham sido identificados nas investigações. George Leal, de acordo com fontes, se negou a assinar o termo de colaboração.
O conteúdo dos depoimentos prestados por Carla Ubarana sob delação premiada ainda é mantido em sigilo. Tanto o Ministério Público quanto a defesa, representada pelo advogado Marcos Braga, e a família dos acusados se negam a prestar quaisquer informações relativas ao depoimento de Carla Ubarana ou sobre os futuros encontros destinados à coleta de informações.
A expectativa é que na próxima sexta-feira, em audiência marcada na 7a. Vara Criminal, o casal confirmem em juízo tudo o que foi dito ao Ministério Público Estadual.
“Laranjão” entre as outras laranjas
Durante os 28 dias em que ficou efetivamente recolhida no sistema prisional, Carla Ubarana só saiu de sua cela para o banho de sol uma única vez, segundo a direção do Pavilhão Feminino do Complexo Penitenciário João Chaves. E por insistência da direção. Todo o tempo, Carla ficava recolhida à sua cela. No período, a ex-chefe da Divisão de Precatórios do Tribunal de Justiça do RN teve duas internações hospitalares, a maior  delas de 17 dias.
Segundo fontes da intimidade de Carla Ubarana ouvidas pela TRIBUNA DO NORTE, ela estava em estado depressivo. Não se conformava em “pagar sozinha, junto com o marido, pelas fraudes”, quando existiam outros envolvidos. No retorno à prisão, após sua última internação no Hospital do Coração, segundo essa mesma fonte, Carla ingeriu, de uma vez, várias cápsulas de um tranquilizante, numa tentativa de suicídio. A essa pessoa, ouvida pela TN, Carla chegou a dizer que ela e o marido prepararam um testamento, onde beneficiam os filhos.
“Ela dizia que, caso acontecesse alguma coisa, os filhos estariam protegidos”, afirmou a fonte.  O testamento teria sido feito, dada as ameaças recebidas. O casal já tinha relatado a vários interlocutores ter recebido ameaças de morte. Segundo a fonte do jornal, Carla afirmou, por várias vezes, que era apenas “um laranjão” a serviço “dos grandes”, junto com outros laranjas, e que “não era justo que estivesse presa e os mandantes livres”. Ela também disse que “os delitos foram encomendados e que ela tinha como provar tudo”.
Acusada de liderar o esquema de desvios no pagamento dos precatórios, Carla Ubarana foi presa no dia 31 de janeiro, em Recife. Em Natal, dividiu uma das celas do pavilhão feminino do Complexo Penitenciário DR João Chaves com a espanhola Lourdes Cañadas (acusada de tráfico) e com a empresária Noélia Araújo (acusada de fraudes). Somente nas últimas semanas é que se mostrou disposta a colaborar nas investigações, entregando documentos, que contém além de nomes, contas bancárias, que comprovam quais eram os favorecidos pelo esquema e como era ‘esquentado o dinheiro’.
Carla disse que “tinha esperança de recuperar tudo, mostrando a autoria dos fatos” aos promotores públicos, mas a possibilidade de manter os bens está afastada e é, inclusive, citada no termo de colaboração que ela assinou com o Ministério Público Estadual. George Leal, o marido de Carla, também foi beneficiado pelo acordo para a prisão domiciliar do casal, mas ainda não assinou o termo de colaboração.
No último sábado em que ficou no presídio, Carla recebeu a visita da mãe, a quem entregou uma sacola com a maior parte das roupas. Algumas peças, no entanto, ficaram no presídio para que fossem doadas às detentas.
Dois dos investigados pelo Ministério Público ainda continuam presos, Carlos Eduardo Palhares de Carvalho que dividia cela com George Leal, e Carlos Alberto Fasanaro Júnior. Na sexta-feira, 23, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou ouvir os dois, mas eles se recusaram a falar, alegando que tinham orientação dos advogados para não dar entrevistas.
Fonte: Tribuna do Norte

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